Entendendo o álbum "Underworld" do Symphony X: Os 9 infernos de Dante


Neste último tópico, abordaremos sobre a jornada de Dante no submundo e suas descrições dos 09 círculos do inferno que é descrito na sua obra clássica "A Divina Comédia". Os outros dois sobre o Submundo pode ser lido aqui e sobre a história de Orfeu, aqui.

Bom, na Idade Média, acreditava-se que o Cosmo e o próprio planeta eram divididos em diversos círculos (ou melhor dizendo, aneis) e isso se aplicou na divisão da Terra com o Inferno. Assim sendo, o Inferno, segundo Dante, era dividido em 09 círculos, 03 vales e 04 esferas, sendo que cada um para cada pecado capital (sete no total), o Limbo e a Cidade de Dis, que você entenderá o porque de ter duas mais adiante. Esse submundo, seria uma "dimensão paralela" à nossa, porém ela ia da superfície do planeta adentrando a Terra (assim como o Submundo governado por Hades). Por acreditarem que o Inferno foi criado a partir da queda do anjo Lúcifer, o portal seria geograficamente, localizado em Jerusalém, a Terra Santa.

Infográfico que explica detalhadamente os infernos segundo Dante Alighieri. | Fonte: Projeto Psiquê

PORTAL DO INFERNO:
Esse portal seria uma alegoria, no sentido literário da palavra, já que não haveria nenhum portão ou algo do tipo físico que dividisse o mundo terreno com o submundo. A única coisa que demarcaria essa divisão, seria um arco que adverte: uma vez dentro, deve-se abandonar toda a esperança de rever o céu, pois de lá não se pode voltar. O trecho é esse daqui, retirado do Canto III:

[...]
No existir, ser nenhum a mim se avança,
Não sendo eterno, e eu eternal perduro:
Deixai, ó vós que entrais, toda a esperança!”
Estas palavras, em letreiro escuro,
Eu vi, por cima de uma porta escrito.
“Seu sentido” — disse eu — “Mestre me é duro”
[...]
Portal do Inferno com sua advertência, por  Helder da Rocha | Fonte: Stelle
VESTÍBULO DO INFERNO:
Seria uma ante-sala onde ficam aqueles que não podem ir nem para o Paraíso nem para o Inferno."O céu e inferno são estados onde uma escolha é permanentemente recompensada (de forma positiva ou negativa), deve também existir um estado onde a negação da escolha seja recompensada, uma vez que recusar a escolha é escolher a indecisão." O vestíbulo é a morada dos indecisos, covardes e que passaram a vida "em cima do muro". Eles nunca quiseram assumir compromissos, tomar decisões firmes, por acharem que assim perderiam a oportunidade de fazer alguma coisa. Os covardes são condenados a correr em filas atrás de uma bandeira que corre rapidamente, enquanto são continuamente torturados pelas picadas de vespas e moscões, enquanto vermes roem suas pernas.
A divisão entre o vestíbulo e o primeiro círculo é feita pelo rio Aqueronte onde Caronte trabalha (sim, é aquele rio e com o barqueiro que cobra para atravessar as almas para o submundo, da mitologia grega) transportando os mortos. Caronte não pode levar Dante pois ele era muito pesado (oras, ele estava vivo!) e ele e Virgílio foram para outra entrada alternativa.

O barqueiro Caronte no rio Aqueronte, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review

  • Primeiro Círculo, o Limbo (Virtuosos Pagãos): ali estão aqueles que morreram antes da chegada de Jesus ao mundo, os pagãos virtuosos e os não-batizados, principalmente as crianças. Ali, eles estão fadados a vagar na completa escuridão - que representa a mente que nunca foi iluminada pelo Evangelho. Ali, Dante, encontrou o próprio Virgílio, seu poeta favorito que irá acompanhá-lo em toda a epopeia, Horácio, Homero, dentre outros.
Pagãos virtuosos no Limbo, por Gustave Doré | Fonte: Templar Inferno Book Review
Ainda no Limbo, existe o Castelo da Ciência Humana com 07 muralhas: o Trivium [na Idade Média, a primeira parte do ensino universitário, formada por três disciplinas (gramática latina, lógica e retórica)] (Lógica, Gramática e Retórica) e o Quadrivium [na Idade Média, o conjunto dos quatro ramos do saber (aritmética, geometria, música e astronomia), orientados pela matemática, que compunham, com o trivium, as sete artes liberais ministradas nas universidades.] (Aritmética, Astronomia, Geometria e Música) e, ao redor do castelo está o Rio Eloquência. Neste castelo, estão os personagens virtuosos e bondosos que morreram pagãos, dentre eles, o próprio Orfeu (!!!).

  • Segundo Círculo, o Vale dos Ventos (Gula): Aqui está a Sala do Julgamento, onde Minos, o juiz do inferno [Um pequeno Ps. Minos: foi um rei semi-lendário da ilha de Creta, filho de Zeus e da princesa fenícia Europa. Teria nascido em cerca de 1 445 a.C. e reinado de 1 406 a.C. a 1 204 a.C.], ouve as confissões dos mortos (que sempre dizem a verdade, pois não têm mais o dom da inteligência) e os condena a um círculo no inferno dessa maneira: se enrola em sua cauda tantas vezes quantos círculos quer que o pecador desça.
Minos, na sala de julgamento, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
Logo depois está o Vale dos Ventos, onde padecem os luxuriosos, que sofrem e blasfemam contra Deus, enquanto são atormentados e arrebatados por um furacão e turbilhões de vento que não param nunca, arrastando os espíritos com violência, atormentando-os, ferindo-os e rolando-os. Em vida, eles eram levados por suas paixões, que os arrastavam como o vento; agora é o vento incessante que os arrasta no inferno. Aqui está Semíramis, Cleópatra, Helena, Aquiles, Páris, Tristão e "mais mil almas que foram desfeitas pelo amor".

Cérbero, o cão de três Cabeças, que também aparece na história de Orfeu, por Gustave Doré. Fonte: Templar Inferno Book Review 

  • Terceiro Círculo, Lago de Lama (Gula): Aqui estão os Gulosos. Atolados numa lama suja e espessa e atormentados por uma tempestade fortíssima de granizo, gelo, neve e torrões de água suja que caem sem parar. Segundo Dante, os gulosos jazem imersos no próprio vômito.
Dante e Virgílio entre os glutões, por Gustave Doré | Fonte: Templar Inferno Book Review 
Cérbero, o cão de três cabeças, com apetite insaciável, arranha, esfola, esmaga, dilacera e esquarteja os espíritos dos gulosos. O prazer solitário da gula é ampliado no inferno, onde estes estão solitários na lama, sem falar com seus vizinhos. Em vida o prazer e o conforto de comer alegremente além dos limites é o desconforto de uma dolorosa chuva gelada, Cérbero representa a gula, o apetite sem limites.
  • Quarto Círculo, Colinas de Rocha (Ganância): Aqui estão os Pródigos e Avarentos. Neste círculo repleto de montanhas, suas riquezas materiais se transformaram em grandes pesos de barras e moedas de ouro que um grupo deve empurrar contra o outro e também trocarem-se injúrias, pois suas atitudes em relação à riqueza foram opostas. Aqui habitam Plutão e Fortuna, que na mitologia grega, são deuses da riqueza.
    A punição do avarento e do filho pródigo, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review 
Quinto Círculo, Rio Estige (Ira): Na entrada para este círculo está uma cachoeira de água e sangue borbulhante e fervente cuja água era mais escura que roxa. A água desce algumas praias e forma um lago que se chama Estige, onde estão amontoados os acusados de ira, que estão juntos batendo-se e torturando-se numa raiva sem fim. No fundo do Estige estão os rancorosos que nunca demonstraram sua ira; eles não podem subir à superfície e ficam na lama do fundo do rio, soltando as bolhas que se veem na superfície. Flégias, que incendiou o templo de Apolo por este ter violado sua filha,vêm fazendo com sua barca a travessia do rio Estige.
Pecador tenta emergir do Rio Estige, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
  • Cidade de Dite/Dis: A Cidade de Dite serve de divisão entre os pecados cometidos sem intenção (culpa) e os pecados cometidos conscientemente (dolo). É cercada por fogo, fossos profundos e por muralhas de ferro, sobre as portas da cidade estão mais de mil anjos caídos. 
    Virgílio mostrando as Erínias a Dante, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
No alto de uma torre estão as três Erinias [Mais um ps. Erínias: As Erínias (Fúrias para os romanos – Furiæ ou Diræ) eram personificações da vingança, semelhantes a Nêmesis. Enquanto Nêmesis (deusa da vingança) punia os deuses, as Erínias puniam os mortais. Eram Tisífone (Castigo), Megera (Rancor) e Alecto (Inominável). Viviam nas profundezas do Tártaro, onde torturavam as almas pecadoras julgadas por Hades e Perséfone. Nasceram das gotas do sangue que caíram sobre Gaia quando o deus Urano foi castrado por Cronos. Pavorosas, possuíam asas de morcego e cabelo de serpente.] (Megera, Aleto e Tisífone) enroladas em hidras e a Medusa. Inicialmente os demônios não abrem a porta de Dite para Dante e Virgílio, então para auxiliá-los, surge um anjo que chegou à porta e com uma varinha abriu-a, sem nenhuma oposição.
Mensageira que abriu os portões para Virgílio e Dante, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review

 Sexto Círculo, Cemitério de Fogo (Heresia): É um cemitério que abriga vários grupos hereges, entre eles, aqueles que não acreditaram na existência de Deus e de Jesus Cristo como Seu Filho, como os seguidores das doutrinas de Epicuro, que negava a sobrevivência da alma após a morte corporal. Eles estão confinados em túmulos abertos de onde sai o fogo eterno (é um paralelo de Dante á punição que a Igreja dava aos hereges: serem queimados em fogueiras). Em cada túmulo há mais de mil condenados.
Dante e Virgílio entre os hereges. | Fonte: Templar Inferno Book Review
  • Sétimo Círculo, Vale do Flegetonte (Violência): No fim do sexto círculo há um alto precipício circular (de onde vem um terrível cheiro) que leva ao sétimo círculo, onde estão os violentos, que distribuem-se por três vales (ou giros):
*Primeiro Vale - Vale do rio Flegetonte (violência contra o próximo): O rio Flegetonte é um rio de sangue fervente. Na sua margem estão algumas ruínas e o Minotauro de Creta, ainda na margem do rio, um pouco mais à frente, correm as filas de centauros e eles estão armados com arcos e flechas, e atiram setas em todas as almas que se erguem do sangue mais do que lhe destinou sua culpa. Os violentos contra pessoas e seus bens, estão mergulhados no rio de sangue daqueles que oprimiram, quanto mais grave o crime, maior a parte imersa. Os tiranos mantém acima da superfície somente as sobrancelhas, eles atentaram contra a vida e contra os bens de suas vítimas, dentre eles está Alexandre, Dionísio, Azolino, Opizzo da Esti. Os assaltantes dentro do rio têm apenas o peito de fora, eles são punidos por terem praticado violência contra os bens de suas vítimas. Os homicidas só mantêm fora a cabeça. Também estão aqui Átila, Pirro e Sexto.
Centauros cuidam para que os pecadores violentos mantenham dentro do rio, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Segundo Vale - Vale da Floresta dos Suicidas (violência contra si mesmos): Os violentos contra si mesmos (suicidas) são transformados em árvores sombrias e retorcidas; por todo lado ouvem-se gritos lamentosos. Quando os pecadores chegam e caem na selva, são transformadas em sementes, crescendo até tornarem-se árvores silvestres. "A folhagem não era verde, mas escura, os ramos não eram lisos, mas nodosos e torcidos, não frutos, mas espinhos venenosos". É onde estão os ninhos das Harpias citadas na Eneida, que se alimentam das suas folhas, causando dor e sangramentos nas árvores. Aqui também estão os esbanjadores (violentos contra os próprios bens) que são eternamente perseguidos por cadelas famintas que representam a pobreza e o desespero.
Harpias na Floresta dos Suicidas, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Terceiro Vale - Vale do Deserto Abominável (violência contra Deus): Os violentos contra Deus são condenados a jazer num deserto de areia quente onde chovem chamas de fogo, o areal. Estéril e sem vida, é o oposto do mundo criado por Deus. Eles vivem em um mundo sem cor, sem conforto e sem esperança, o mundo que desejaram ter em vida, rejeitando tudo o que Deus lhes oferecera, preferindo dar maior valor às coisas materiais. Aqui chove chamas sobre terra areenta, como chove neve nos Alpes Aqui está Capâneo. Existem quatro tipos de violentos contra Deus: Blasfemadores, os violentos contra a Palavra de Deus, que jazem deitados no chão, em maior sofrimento. Intelectuais, os violentos contra o Espírito de Deus, que ficam espremidos uns sobre os outros. Sodomitas, os violentos contra a Natureza de Deus, condenados a correr pelo deserto, sem rumo, e se pararem, são condenados a permanecer no mesmo lugar por mil anos.Usurários, os violentos contra a Sabedoria de Deus, que jazem sentados nas chamas. 
Blasfemos, sodomitas e usurários no sétimo círculo, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Cachoeiras de Sangue: Aqui brota o rio Flegetonte, cujas águas passam pelo deserto e a floresta, suas margens são de pedra e Dante e Virgílio caminharam pelas margens para não se queimarem. A passagem para o próximo círculo, está no fundo do vale, sendo feita de pedra. Também no fundo está a cachoeira contida pelo dique do Flegetonte, o vapor do regato condensa-se por cima, salvando do fogo a água e as margens. Há uma multidão de almas que está ao longo do dique, dentre elas está Bruneto, Guido, Tegghiaio Aldobrandi e Tiago Rusticucci. Dante e Virgílio montam no gigante Gerião para atravessar o rio de sangue e ir para o oitavo círculo.
O gigante Gerião, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
  • Oitavo Círculo, o Malebolge (Fraude): Este círculo chama-se Malebolge, é todo em pedra e da cor do ferro, assim como a muralha que o cerca. Aqui estão os fraudulentos. Este círculo está dividido em dez fossos (ou Bolgias), semelhantes aos fossos que defendem certos castelos, os fossos estão ligados entre si por pontes.
*Primeira Bolgia: Os rufiões e sedutores são continuamente açoitados por demônios. Eles exploraram as paixões dos outros, controlando-os para servir a interesses próprios. Aqui são eles que são levados, com chicotadas, a cumprir o desejo dos demônios. Aqui está Venedico Caccianimico e Jasão.
Punições dos rufiões e sedutores, por Gustave Doré. | Facebook: Templar Inferno Book Review

*Segunda Bolgia: Os aduladores e lisonjeiros estão submergidos em um fosso de fezes e esterco. Em vida eles exploravam os outros ao tirar proveito de seus medos e desejos; sua arma é a linguagem fraudulenta, através de raciocínios falsos, que destroem a comunicação entre as mentes. Eles estão imersos nas próprias fezes, a sujeira que deixaram no mundo. Aqui está Alessio Interminei de Lucca, Medeia e Isifila.
*Terceira Bolgia: Os simoníacos (traficantes de artefatos sagrados) estão enterrados de cabeça para baixo e suas pernas são assadas por velas. Esta é a punição aplicada aos assassinos de aluguel, pelas leis da República Florentina. Os buracos se assemelham a fontes de batismo. Os simoníacos, que perverteram a igreja, são "batizados" ao contrário: em vez de óleo, o fogo, aplicado aos pés. Vários condenados ocupam o mesmo buraco onde são empilhados, ficando apenas o mais recente com as pernas de fora. Aqui está o Papa Nicolau III, o maior simoníaco, fato demonstrado pela altura das chamas nos seus pés. Inicialmente Nicolau confunde Dante com o Papa Bonifácio VIII. Quando a confusão é esclarecida, Nicolau diz a Dante que prevê a condenação por simonia de Bonifácio VIII e do Papa Clemente V, um papa ainda mais corrupto.
Dante e o Papa Nicolau III discutem o destino do papa Binifácio VIII, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Quarta Bolgia: Os adivinhos têm a cabeça torcida, voltada para as costas, de forma que não conseguem olhar para a frente. Segundo Dante, as lágrimas molham suas nádegas. É a punição por alegarem saber o futuro que somente Deus sabe. Aqui está Tirésias, Manto, Eurípilo, Miguel Scotto e Guido Bonatti
*Quinta Bolgia: Os corruptos estão submergidos em um lago de espesso piche fervente; os que tentam ficar com a cabeça acima do caldo são torturados por demônios, que os dilaceram. Em vida, os corruptos tiraram proveito da confiança que a sociedade depositava neles; no inferno estão submersos em caldos, escondidos, pois suas negociações eram feitas às escondidas. Os demônios e o significado literal dos nomes que habitam o quinto fosso são: Malacoda (malvada cauda); Calcabrina (pisa neve); Alichino (asa baixa); Cagnazzo (focinho de cão); Barbariccia (barba crespa); Libicocco (libiano); Draghignazzo (dragão feio); Graffiacane (esfola-cães); Ciriatto (porcalhão); Farfarello (duende); Rubicante (vermelhaço) e Scarmiglione (cabelo bagunçado). A ponte que liga o quinto fosso ao sexto, conforme Malacoda explicou a Virgílio, desmoronou há 1266 anos (a contar da época em que o poema se passa), quando Jesus morreu - por isso, os demônios sob ordens de Malacoda, levam Dante e Virgílio por outro caminho que dá para o sexto fosso. Nesse fosso encontra-se Ciampolo, que é pego pelos demônios fora do piche, e enganam-os dizendo que ia entregar outros companheiros que de vez em quando também ficavam fora do caldo, mas ainda consegue fugir dos demônios e mergulhar novamente no piche, o que provoca uma briga entre os demônios. Ciampolo também revela a existência de frei Gomita. Os demônios começam a perseguir Dante e Virgílio, responsabilizando-os pela briga, mas eles conseguem escapar antes de serem pegos indo para o sexto fosso, para onde os demônios não puderam acompanhá-los, pois não podem sair do quinto fosso.
Demônios atormentando um litigante de má-fé, por Gustave Doré. Fonte: Templar Inferno Book Review

Demônios perseguindo Dante e Virgílio no quinto fosso, por Gustave Doré. Fonte: Templar Inferno Book Review
*Sexta Bolgia: Os hipócritas estão vestidos com roupas brilhantes, atraentes, porém pesadas como o chumbo. Este é o peso que não sentiram na consciência ao fazerem maldades. No inferno, sentem o peso de seu falso brilho. Aqui estão os frades Catalano e Loderingo. É descrito onde Dante e Virgílio tem de escalar uma ruína que vai para o sétimo fosso. Nesse fosso esta Caiphás, o sacerdote que condenou Jesus, que fica crucificado no chão, sendo pisoteado pelos outros condenados, sofrendo as mesmas dores que Cristo sofreu.
Caiphas, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Sétima Bolgia: Os ladrões têm seus corpos roubados constantemente por serpentes e outros répteis monstruosos que os atravessam e os desintegram, roubando seus traços humanos. É a punição por terem se apoderado do que não era seu, sendo que agora, as serpentes se apoderam de sua próprias identidades. Aqui está Agnel (Agnello dei Brunelleschi), um nobre florentino que aparece inicialmente como uma alma humana, mas depois Cianfa dei Donati (um outro nobre florentino), se mescla com Agnel, Cianfa aparece pela primeira vez como um réptil de seis patas. Puccio Sciancato é outro nobre florentino. Puccio é o único que não se transforma em serpente durante a visita de Dante. 
A punição dos ladrões, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Oitava Bolgia: Os maus conselheiros estão envoltos por chamas, oceanos de lava e uma tempestade de raios contínua. Em vida eles induziram outros a praticar a fraude. "O fogo que os atormenta também oculta os conselheiros da fraude, pois o pecado deles foi cometido escondido. E como pecaram com suas línguas, agora a fala só pode passar pela língua da chama furtiva". Aqui está Ulisses Diomedes.
Dante e Virgílio entre os semeadores da discórdia, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Nona Bolgia: Os semeadores de discórdias são esfaqueados pela espada de um demônio, que os pune causa mutilações em partes do corpo representativas do tipo de discórdia que provocaram. Eles estão com as entranhas para fora, aparecendo seus estômagos; alguns têm a cabeça cortada; outros, os braços e as pernas; outros, a língua, as orelhas ou o nariz. Existem três tipos de semeadores de discórdias: Criadores de cismas religiosos, instigadores de conflitos sociais e semeadores de desunião familiar. Aqui está Geri del Bello e Bertrand de Born.
Bertran de Born, condenado a ter a cabeça separada do corpo para sempre, por ter causado a separação de pai e filho, por Gustave Doré. | Fonte: Stelle
*Décima Bolgia: Pecadores que cometeram qualquer tipo de falsificação, jazem cobertos por todo tipo de doença e pestilência. "Em nossa sociedade, eles podem representar aqueles que falsificam remédios e comida, os que constroem prédios e casas com materiais de baixa qualidade e etc". Aqui são seus corpos que se tornam falsos, ao apodrecerem, cobertos por enfermidades, que, segundo Dante, exalam um fedor insuportável. Existem 4 tipos de falsificadores aqui, sendo eles: Alquimistas, que são inchados pela hidropsia; Simuladores, que são atacados pela lepra e pela sarna; Falsos, que são transformados em loucos; e Mentirosos, atacados por uma febre ardentíssima e pela sede eterna.
Dante e Virgílio entre os falsificadores, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
  • Nono Círculo, Lago Cocite (Traição): Gigantes obstruem a passagem do oitavo círculo para este, estão acorrentados em poços congelados, é a punição por em vida terem se revoltado contra Júpiter. Os gigantes são: Nemrode, Efialtes, Briareu, Encélado, Egeon e Anteu.
    Virgílio apontando para os gigantes, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
    Anteu ajuda Dante e Virgílio a irem para o próximo círculo, carregando-os nas mãos e colocando-os lá.
    Anteu ajuda Dante e Virgílio na descida ao nono círculo (Lago Cocite), por Gustave Doré. | Fonte: Stelle
O Nono Círculo é o lago Cocite, que está congelado, o lago das lamentações que fica no centro da Terra e é formado pelas lágrimas dos condenados e pelos rios do inferno que nele deságuam seu sangue. No Cocite estão imersos os traidores, representados por Lúcifer, o traidor de Deus, que aqui reside. Os traidores distribuem-se em quatro esferas diferentes, dependendo da gravidade da traição cometida. As esferas chamam-se: Caína, Antenora, Ptolomeia e Judeca.
Dante e Virgílio andando sobre o lago Cocite, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
Mapa do nono Círculo e suas três esferas, por Helder da Rocha. | Fonte: Stelle
*Esfera da Caína: É onde são punidos os traidores de seus parentes. Aqui as almas permanecem submersas com apenas o tórax e a cabeça fora do gelo. Seu nome tem origem no personagem bíblico Caim que matou seu irmão Abel por causa de inveja.
Dante falando com os traidores na nona esfera, por Gustave Doré. | Fonte: Wikipedia
*Esfera da Antenora: Aqui são punidos os traidores de sua pátria ou partido político. As almas ficam submersas no nível do pescoço, com apenas suas cabeças fora do gelo. O nome foi tirado de Antenor, o príncipe troiano que traiu o seu país ao manter uma correspondência secreta com os gregos.
*Esfera da Ptoloméia ou Toloméia: Aqui são punidos os traidores de seus hóspedes. As almas estão presas no gelo do lago apenas com o rosto para fora de forma que, quando choram, suas lágrimas congelam e cobrem seus olhos. O nome origina-se do personagem bíblico Ptolomeu, onde o capitão de Jericó convida Simão e seus dois filhos ao seu castelo e lá, traiçoeiramente, os mata a sangue-frio: "pois quando Simão e seus filhos haviam bebido bastante, Ptolomeu e seus homens se levantaram, e sacaram de suas armas, e chegaram até Simão na sala de ceia, e o mataram, e seus dois filhos, e parte dos seus servos." Aqui está o Conde Ugolino della Gherardesca e o Arcebispo Rogério.
Conde Ugolino roendo o cérebro do Arcebispo Rogério, por Gustave Doré. | Fonte: Templar Inferno Book Review
*Esfera da Judeca: Aqui estão aqueles que, em vida, traíram seus mestres e reis. Eles sofrem intensamente por estarem submersos totalmente no gelo do Cócito, conscientes, para a eternidade; segundo Dante, alguns estão deitados, outros encolhidos e outros de cabeça para baixo. Aqui reside Lúcifer, também preso no gelo até o meio do peito, peludo, com enormes asas que possuem membranas como a dos morcegos no lugar de penas, provoca um vento sentido por toda a esfera, ele tem três cabeças e com cada uma delas, morde um dos três maiores traidores da história: Judas, Brutus e Cassius. O nome vem de Judas, o traidor de Jesus Cristo.
Satanás no nono círculo do Inferno, por Gustave Doré. | Fonte: Wikipedia

Entrevista com Tommy Antonini - Produtor de "Nevermore"


Hoje, foi lançado o single da nova música do Symphony X, Nevermore. Link do vídeo aqui, ó!
E consegui fazer umas perguntas para o diretor do do vídeo, o italiano Tommy Antonini. Grazie per tutti, Tommy!

Tommy Antonini, o diretor do Lyric Vídeo do Symphony X | Fonte: Facebook


Como você foi chamado para fazer o lyric vídeo do Symphony X?
Tommy:
Eu sempre trabalho para a Nuclear Blast e tive o prazer de trabalhar com eles. Antes disso, eu tive o prazer de trabalhar com Soulfy, Enslaved, Edguy, Black Star Rivers, entre outros.

Você soube como foi o critério para que escolhessem "Nevermore" como o single que seria feito?
Tommy:
Não. Realmente eu não sei porque escolheram "Nevermore", mas sei que há um monte de músicas excelentes nesse álbum

Você teve acesso as outras músicas? O que você pode dizer à gente sobre isso?
Tommy:
 Não, eu não tive acesso à esse álbum, mas os rumores dentro da Nuclear Blast [gravadora do Symphony X] são de que esse álbum será épico.

Você sabe se sairá mais algum lyric vídeo do Symphony X? Você pretende trabalhar com ele futuramente?
Tommy:
Eu ainda não sei se trabalharei para eles, porém eu adoraria fazer isto, claro!

Você, como guitarrista, qual a sua impressão dos riffs e solos de Michael Romeo? Ele é uma influência para você?
Tommy: Michael Romeo é um ícone dos guitarristas e claro que eu amo seus riffs!



Não se esqueçam! O álbum será lançado dia 27 de julho via Nuclear Blast, galera!

Entendendo o álbum "Underworld" do Symphony X: Orfeu


Neste novo tópico, abordaremos a figura de Orfeu. O primeiro tratou-se de uma explicação de que diabos era o Submundo e o paralelo entre o Inferno de Dante Alighieri e o da mitologia grega. Para conferir, clique aqui.

Ainda segundo o gordinho de Nova Jersey, ele quis colocar também o personagem Orfeu como um dos "temas" do álbum novo do Symphony X. Mas afinal, quem foi Orfeu? O que ele teve de tão especial? O que ele tem a ver com o Submundo?

Irei respondendo as perguntas acima e contando mais um dos mitos dos gregos.

Orfeu rodeado de animais | Museu Cristão-Bizantino em Atenas

Orfeu foi médico e poeta e músico (mais conhecido como músico), filho da musa Calíope e do Deus Apolo
Para esclarecer, as Musas eram entidades mitológicas a quem era atribuída, na Grécia Antiga, a capacidade de inspirar a criação artística ou científica. Na mitologia grega, eram as nove filhas de Mnemosine e Zeus
Então, vamos nos aprofundar mais: Mnemosine era uma das titânides, filha de Urano (personificação do Céu) e Gaia (personificação da Terra) e era a deusa da Memória. Ela teve 09 filhas, as Musas (já explicadas), cada uma representando alguma das "artes" que eram feitas na época. Calíope, representa e poesia épica e ela que se envolveu com Apolo.

Calíope. Detalhe do quadro As Musas Urânia e Calíope de Simon Vouet

Apolo , segundo a Wikipedia, "foi uma das divindades principais da mitologia greco-romana, um dos deuses olímpicos. Filho de Zeus e Leto, e irmão gêmeo de Ártemis, possuía muitos atributos e funções, e possivelmente depois de Zeus foi o deus mais influente e venerado de todos os da Antiguidade clássica. As origens de seu mito são obscuras, mas no tempo de Homero já era de grande importância, sendo um dos mais citados na Ilíada. Era descrito como o deus da divina distância, que ameaçava ou protegia desde o alto dos céus, sendo identificado como o sol e a luz da verdade. Fazia os homens conscientes de seus pecados e era o agente de sua purificação; presidia sobre as leis da Religião e sobre as constituições das cidades, era o símbolo da inspiração profética e artística, sendo o patrono do mais famoso oráculo da Antiguidade, o Oráculo de Delfos, e líder das Musas. Era temido pelos outros deuses e somente seu pai e sua mãe podiam contê-lo. Era o deus da morte súbita, das pragas e doenças, mas também o deus da cura e da proteção contra as forças malignas. Além disso era o deus da Beleza, da Perfeição, da Harmonia, do Equilíbrio e da Razão, o iniciador dos jovens no mundo dos adultos, estava ligado à Natureza, às ervas e aos rebanhos, e era protetor dos pastores, marinheiros e arqueiros. Embora tenha tido inúmeros amores, foi infeliz nesse terreno, mas teve vários filhos. Foi representado inúmeras vezes desde a Antiguidade até o presente, geralmente como um homem jovem, nu e imberbe, no auge de seu vigor, às vezes com um manto, um arco e uma aljava de flechas, ou uma lira, e com algum de seus animais simbólicos, como a serpente, o corvo ou o grifo.

Apolo Belvedere, a mais célebre representação do deus. Original grego atribuído a Leocarés, hoje nos Museus Vaticanos
Agora que sabemos sobre o parentesco de Orfeu, vamos falar sobre o dito cujo.
Ainda segundo a Wikipedia: "Orfeu era o poeta mais talentoso que já viveu. Quando tocava sua lira que seu pai lhe deu, os pássaros paravam de voar para escutar e os animais selvagens perdiam o medo. As árvores se curvavam para pegar os sons no vento.
Foi um dos cinquenta homens - os argonautas - que atenderam ao chamado de Jasão para buscar o Tosão de ouro. Acalmava as brigas que aconteciam no navio com sua lira. Durante a viagem de volta, Orfeu salvou os outros tripulantes quando seu canto silenciou as sereias, responsáveis pelos naufrágios de inúmeras embarcações.

Orfeu e Eurídice. Obra de Joseph Paelinck - "Orpheus and Eurydice" | Fonte: Christie's

Orfeu apaixonou-se por Eurídice e casou-se com ela. Mas Eurídice era tão bonita que, pouco tempo depois do casamento, atraiu um apicultor chamado Aristeu. Quando ela recusou suas atenções, ele a perseguiu. Tentando escapar, ela tropeçou em uma serpente que a mordeu e a matou. Por causa disso, as ninfas, companheiras de Eurídice, fizeram todas as suas abelhas morrerem.

Aristeu, o que fez Eurídice morrer. Aristeu por Bosio (1768-1845), Louvre | Fonte: Wikipedia

Orfeu ficou transtornado de tristeza. Levando sua lira, foi até o mundo inferior, para tentar trazê-la de volta. A canção pungente e emocionada de sua lira convenceu o barqueiro Caronte a levá-lo vivo pelo rio Estige. Em seguida, a canção da lira adormeceu Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava os portões. Seu tom carinhoso aliviou os tormentos dos condenados. Encontrou muitos monstros durante sua jornada, e os encantou com seu canto.

Hades, deus do Submundo e Perséfone, sua esposa. Escultura de Bernini. | Fonte: Wikipedia

Finalmente Orfeu chegou ao trono de Hades. O rei dos mortos ficou irritado ao ver que um vivo tinha entrado em seu domínio, mas a agonia na música de Orfeu o comoveu, e ele chorou lágrimas de ferro. Sua esposa, a deusa Perséfone, implorou-lhe que atendesse o pedido de Orfeu. Assim, Hades atendeu seu desejo . Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos . Mas com uma única condição: que ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol .

Orfeu e Eurídice saindo do mundo dos mortos. 
Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração enquanto caminhava, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele então quase no final do tenebroso túnel olhou para se certificar de que Eurídice o acompanhava e não a viu. Hades e Perséfone os seguiram e como ficou estabelecido que ele não poderia olhar para Eurídice até chegar ao fim do túnel, Hades a tomou novamente.

Orfeu vendo pela última vez, sua amada Eurídice.
Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de novo um fino fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que saía do Mundo dos Mortos. Ele a havia perdido para sempre. Em desespero total, Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, não querendo lembrar-se da perda de sua amada. Posteriormente deu origem ao Orfismo, uma espécie de serviço de aconselhamento; ele ajudava muito os outros com seus conselhos, mas não conseguia resolver seus próprios problemas, até que um dia, furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens chamadas Mênades caíram sobre ele, frenéticas, atirando dardos. Os dardos de nada valiam contra a música do lirista, mas elas, abafando sua música com gritos, conseguiram atingi-lo e o mataram. Depois despedaçaram seu corpo e jogaram sua cabeça cortada no rio Hebro, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice! Eurídice!"

As ninfas quando encontraram a cabeça de Orfeu

Chorando, as nove musas reuniram seus pedaços e os enterraram no monte Olimpo. Dizem que, desde então, os rouxinóis das proximidades cantaram mais docemente que os outros. Pois Orfeu, na morte, se uniu à sua amada Eurídice.
Quanto às Mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, os deuses não lhes concederam a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra, em triunfo, sentiram seus dedos se espicharem e entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam. Suas pernas se tornaram madeira pesada, e também seus corpos, até que elas se transformaram em carvalhos silenciosos. E assim permaneceram pelos anos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de Orfeu, até que por fim seus troncos mortos e vazios caíram."

É, realmente uma história muito triste e comovente. Darão belas baladas. Como foi dito pelo Romeo, ele quis algo triste e emocionante para usar de inspiração.

No próximo post, trataremos sobre os círculos do Inferno de Dante e o paralelo com os 09 círculos da capa do novo álbum do Symphony X. Até breve!

Entendendo o álbum "Underworld" do Symphony X: Submundo


Vou tratar, nesta semana dos temas principais que serão abordados no novo álbum do Symphony X, "Underworld" que será lançado dia 27 de julho pela Nuclear Blast. Não se esqueça que, se quiserem comprar antecipadamente, clique aqui para encomendar.

Segundo os comentários do grande chefe Touro Sentado, Michael Romeo, o "tema" principal (sim, tema entre aspas, já que o álbum não será conceitual, porém as músicas estarão interligadas) será o submundo (Underworld, em inglês) e será este local que ocorre as histórias de Dante Alighieri e Orfeu.

Segundo a Wikipedia, "No estudo da mitologia e religião, o submundo ou mundo inferior (em grego: κάτω κόσμος, transl. káto kósmos) é um termo genérico referindo-se a qualquer lugar no qual as almas dos novos mortos vão. Na maioria das culturas, o termo se refere a um reino neutro ou distópico da vida após a morte, ao invés de um paraíso. Algumas vezes o submundo é identificado como 'Inferno' uma vez que acreditava-se que ele estivesse sob a terra."

Para aqueles que leram o livro "A Divina Comédia", obra-prima de Dante Alighieri, sabe-se que um terço do mesmo passou-se no Inferno, onde o autor relata suas experiências lá. Também uma das epopeias, na realidade a última de Orfeu, ocorre no Inferno da mitologia grega, o submundo. Vamos, primeiramente, tratar do que é o submundo, segundo a mitologia grega.

Mapa do Submundo com suas divisões e seus rios. | Fonte: Fantastipédia


Ainda segundo a Wikipedia: "O mundo inferior (os infernos) é um termo geral utilizado para descrever diversos reinos da mitologia grega que se localizavam sob a superfície terrestre. Alguns deles eram:
  • O grande poço do Tártaro, originalmente uma prisão exclusiva para os Titãs, antigos deuses, e que vieram a ser posteriormente o calabouço onde se aprisionavam as almas amaldiçoadas;
O Tártaro é o lugar mais profundo do mundo. Somente os deuses aprisionados por Zeus, Hades e Poseidon, durante a Titanomaquia ficam lá. Os humanos, ficam no submundo, governado por Hades que é um pouco mais acima. Gaia é a personificação da Terra e Urano, do Céu. Eles são os pais de todos os outros deuses gregos. | Fonte: Wikipedia
  • A terra dos mortos, governada pelo Deus Hades, conhecida tanto pelo nome do próprio deus como por casa ou domínio de Hades (domos Aidaou), Érebo, os Campos de Asfódelos, Styx e Aqueronte. E afinal, como é o procedimento após a morte, segundo os gregos?
Caronte, por Gustave Doré, para o livro "A Divina Comédia (!!!) | Fonte: Wikipedia

Antes de chegar ao Hades, os mortos pegam a balsa de Caronte para atravessar o rio Aqueronte (das dores). Caronte transporta os heróis, as crianças, os ricos e os pobres para o Hades propriamente dito. Caronte cobra moedas para fazer a passagem. Era costume grego colocar uma moeda, chamada óbolo, sob os olhos do cadáver, para pagar Caronte pela viagem. Se a alma não pudesse pagar, ficaria forçadamente na margem do Aqueronte para toda a eternidade, e os gregos temiam que pudesse regressar para perturbar os vivos. Hades ordenou-lhe que não transportasse vivos, fossem quais fossem as razões para atravessar o rio, ameaçando-o com um pesado castigo, mas alguns, com muita habilidade, conseguiam enganar Caronte ou convencê-lo a abrir uma exceção. Na outra margem do Aqueronte ficaria Cérbero, o cão de guarda de três cabeças do Hades. Era muito dócil e gentil com as almas que chegavam, mas demonstrava sua face violenta caso elas tentassem fugir.

Cérbero, o cão de guarda de Hades. Desenho feito por Gustave Doré para o famoso livro de Alighieri | Fonte: Wikipedia
  • As "ilhas dos Abençoados" ou ilhas Afortunadas, governadas por Cronos (de acordo com Píndaro - outros relatos divergem), onde grandes heróis e mitos residiam após suas mortes.
Reconstrução do mapa-múndi por Pomponius Mela (37 d.C.), com as ilhas dos Abençoados ao largo da costa da África. | Fonte: Fantastipédia

  • Os Campos Elísios, onde viviam as almas dos homens virtuosos e os iniciados nos antigos mistérios.Nos Campos Elísios, os homens virtuosos repousavam dignamente após a morte, rodeados por paisagens verdes e floridas, dançando e se divertindo noite e dia, descrição semelhante ao céu dos cristãos e muçulmanos. Neste lugar, só entram as almas dos heróis, santos, sacerdotes, poetas e deuses. As pessoas que residiam nos Campos Elísios tinham a oportunidade de regressar ao mundo dos vivos, coisa que só alguns conseguiam. Em algumas versões, é cercado por um muro gigantesco, parecido com o muro das lamentações, para separá-lo do Tártaro. Certas versões obsoletas colocam o juiz Radamanto como um dos "protetores" dos Campos Elísios, e um de seus servos seria Cronos (anteriormente o líder dos titãs e pai de Zeus), um deus maligno e cruel. Mesmo assim, Cronos nunca incomodou ninguém no paraíso. Lá, também, havia um vale por onde corria o rio Lete, o rio do esquecimento. Segunda algumas versões, seus habitantes ficavam ali por 1000 anos, até apagar-se tudo de terreno neles; depois disto, esqueciam de toda a sua vida (provavelmente bebendo do rio Lete) e reencarnavam ou realizavam metempsicose - reencarnar em animais.
Campos Elisios por Carlos Schwabe | Fonte: Wikipedia

Os cinco rios do Hades eram o Aqueronte (o rio da dor), Cócito (lamento), Flegetonte (fogo), Lete (esquecimento) e Estige (ódio), que faziam a fronteira entre os mundos superiores e inferiores.

O antigo conceito grego de mundo inferior variou consideravelmente ao longo do tempo"


"Dante e seu Poema". Pintura de Domenico di Michelino (1460). | Fonte: Steelle

Agora abordaremos a visão de Dante.

Vê-se ao fundo Dante e Virgílio observando o que acontece no Inferno. Obra de Willian Bouguereau. | Fonte: Wikipedia

Segundo a Wikipedia: "O Inferno é a primeira parte da 'Divina Comédia' de Dante Alighieri, sendo as outras duas o Purgatório e o Paraíso. Está dividido em trinta e quatro cantos (uma divisão de longas poesias), possuindo um canto a mais que as outras duas partes, que serve de introdução ao poema. A viagem de Dante é uma alegoria através do que é essencialmente o conceito medieval de Inferno, guiada pelo poeta romano Virgílio. 

No poema, o inferno é descrito com nove círculos de sofrimento localizados dentro da Terra (vejam que há um paralelo com a mitologia grega. Em ambas as visões, o inferno são locais terrenos) .O inferno é formado por Nove Círculos, Três Vales, Dez Fossos e Quatro Esferas. Essa organização foi baseada na teoria medieval de que o universo era formado por círculos concêntricos. O inferno foi criado da queda de Lúcifer do Céu. Lúcifer teria caído em Jerusalém, a Terra Santa, portanto, ali está o Portal do Inferno. O inferno torna-se mais profundo a cada círculo, pois os pecados são mais graves. Portanto os pecados menos graves estão logo no início, e os mais graves no final."

"A justiça do inferno debatida no canto 11 está de acordo com a ideia de Aristóteles que relata, na sua obra Ética a Nicômaco: 'deve ser observado que há três aspectos das coisas que devem ser evitados nos modos: a malícia, a incontinência e a bestialidade.' A alma incontinente tem culpa, mas a culpa é menos grave que o dolo (má-fé), a vontade de pecar. Esta vontade, quando se origina como manifestação da natureza animal é ainda menos grave que aquele pecado que é cometido de forma premeditada, usando a inteligência do ser humano para o mal, mesmo assim, é menos grave um indivíduo planejar e executar um crime contra um desconhecido, que pode se defender do estranho que o ameaça, que ele fazer o mesmo com alguém que confia nele, e por isto está indefeso, por isso a traição, é considerada o maior pecado, que recebe a punição máxima no local mais profundo do inferno. A justiça divina retratada no livro é cabal, racional e definitiva, o que torna o inferno dantesco uma espécie de 'caos impiedosamente ordenado'.

Bom, após essas explicações, um pequeno resumo/introdução sobre o Inferno de Dante: "Dante sem saber ao certo como, talvez por estar sonolento, perdeu-se em uma selva sombria, segundo a tradutora Dorothy L. Sayers, a selva é uma representação simbólica da perdição no pecado, 'onde a confusão é tão grande que a alma não se acha capaz de reencontrar o caminho certo'. Uma vez perdido na selva escura, um homem só poderá escapar se, através do uso da razão do intelecto, descer de forma que veja o seu pecado não como um obstáculo externo (as feras que aparecerão à seguir), mas como vontade de caos e morte dentro de si (inferno). Então Dante achou um monte, na interpretação de Sayers, "representa no nível místico a ascensão da alma a Deus. No nível moral, é a imagem do arrependimento. Pode ser escalado diretamente pela estrada certa, mas não pela selva selvagem porque ali os pecados da alma são expostos e aparecem como demônios (as feras) com um poder e vontade próprios, impedindo qualquer progresso". O monte pode ser uma representação alegórica da montanha do purgatório que não pode ser escalada pela selva escura. Dante a subiu e logo apareceram três feras (Pantera, Leão e a Loba), provavelmente os animais representam três tipos de pecados (que são discutidos no Canto 11) e também três divisões do inferno, é uma representação alegórica dos pecados de acordo com Tomás de Aquino, que influenciou Dante. A Pantera (incontinência), o leão (violência) e a loba (fraude) refletem níveis de gravidade de acordo com os conhecimentos do homem (quanto mais se sabe, mais grave é o pecado). Segundo Sayers, refletem três estágios da vida do homem (juventude, meia-idade e velhice). Os pecados cometidos na velhice seriam mais graves, pois quem os comete já sabe diferenciar o certo do errado.

Então Dante encontra Virgílio – que seria seu autor favorito para sair dali. Virgílio propõe a Dante uma jornada pelo inferno, purgatório e paraíso, finalizando-se o canto 1. No canto 2, Dante se acovarda e tenta desistir da jornada, entretanto Virgílio o impede e revela ter sido mandado por Beatriz – a amada do Dante que saiu do céu e foi falar com Virgílio, no Limbo – para que o ajudasse. Então, Dante recupera sua coragem e é iniciada a sua epopeia."

No próximo post, será explicado os círculos do inferno e seus significados, segundo Dante e o que Orfeu tem a ver com tudo isso. Fiquem ligados!
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