RUSSELL ALLEN - ENTREVISTA COM A VOZ DO METAL (REVISTA HARD FORCE)


Taí uma matéria que eu estava enrolando pra traduzir numa revista francesa chamada Hard Force.Finalmente tomei vergonha na cara e eis aí a entrevista traduzidinha (ok, não é uma Brastemp, mas dá pra entender) pra vocês que não entendem meleca nenhuma de francês como eu, ter uma ideia do que eles comentaram, principalmente sobre o projeto Allen/Lande.





Fonte: Hard Force


Alguns cantores são instantaneamente reconhecidos com uma performance poderosa que impõe respeito. Jorn Lande e Russell Allen são os representantes mais proeminentes disso. Por quase dez anos, regularmente eles se uniram através do projeto Allen/Lande e acabaram de lançar o seu quarto álbum juntos "The Great Divide", desta vez sob a liderança de um convidado, o guitarrista Timo Tolkki (fundador da banda Stratovarius). Russell teve uma longa e amigável conversa conosco sobre esse projeto e seus trabalhos.

Russell, antes de falarmos sobre esse novo álbum, você poderia voltar no tempo e nos contar os primórdios dessa colaboração com Jorn Lande?
Basicamente, este é um projeto da gravadora Frontiers e, Serafino (N.E.: Perugino, fundador da gravadora italiana), no qual é um grande fã meu e de Jorn. Ele disse que seria bom unir nossas vozes e trabalhar com Magnus Karlsson (N.E.: guitarrista do Primal Fear, dentre outros...). Quando recebi as demos, eu gostei pois é diferente do que eu estou acostumado a fazer que é prog-rock e então eu aceitei. Foi assim que começou.

Você conheceu Jorn?
Não, eu nunca o conheci. Eu cruzei com ele em um festival quando ele cantou com o Ark... mas formalmente, nunca nos conhecemos.

Nem atualmente?
Não. Nós nunca nos falamos! Isto parece uma fábula porque os álbuns são tão "orgânicos", tem tanta vida, que seria fácil de acreditar que foram gravados na mesma sala. Mas temos a tecnologia moderna, que faz grandes coisas estando do outro lado do mundo! É realmente uma colaboração muito interessante.

Então eu poderia dizer que você nunca conheceu Magnus Karlsson então?
Não, mas nós já nos falamos (risos).

No começo, o projeto Allen/Lande era para terminar no terceiro álbum?
Sim, de fato era para ser apenas dois álbuns. E nos ofereceram o terceiro, o quarto e aconteceu porque houve uma grande demanda por parte dos fãs que amam de verdade o que nós fazemos. Então nós aceitamos. E quando eu soube que meu amigo Timo Tolkki com quem eu tomei umas bebidas uns anos atrás quando ele estava no Stratovarius, eu fiquei completamente empolgado com isso. Era a mudança que precisávamos. Trouxe um novo fôlego. Acho que as pessoas estão muito felizes com essa mudança. (N. da Samii: sabe de nada, inocente!!!). Eu estou!

Você acha que você fez três álbuns eram o suficientes para serem feitos com Magnus Karlsson? Por isso a necessidade de mudança?
Eu não decido nada, isso aconteceu entre ele (N. da Samii: Magnus) e a gravadora. Eu não sei de nada se ele quis continuar ou não. Ele sair deixou primeiramente a mim preocupado, porque ele era o principal compositor e, neste caso, uma mudança sempre é importante quando você não sabe como os fãs vão reagir. Mas na outra banda, eu tive a impressão que o terceiro álbum não trouxe nada de novo. Ou em outro caso, para ver a resposta dos fãs. Então eu estou inteiramente feliz de saber que o quarto álbum foi planejado com sangue novo, embora eu não saiba os detalhes das transações. E o resultado me satisfez.

Não querendo contrariá-lo, mas eu preferi esta nova direção, mais "Metal".
Isso é bom, eu tive bastantes comentários positivos sobre ele. A música é boa, nossas vozes estão lá, e fizemos uma mistura disso, e acho que continuará. Eu sempre fui um artista apaixonado por cada um dos meus projetos. Eu nunca engano, coloco meu coração na música. Eu sou muito sortudo nos últimos cinco anos por poder explorar diferentes caminhos em vários projetos, vários artistas, e eu sou muito grato. Eu não tive essa chance no começo da minha carreira, quando eu tinha 20 ou 30 anos de idade e este é o motivo que eu decidi em 2004/2005 fazer meu álbum solo e então o projeto Allen/Lande aconteceu... Era meu 6º ou 7º álbum de prog-metal e eu realmente queria mostrar a todos do que eu era capaz, em coisas mais "rock" do que eu estava fazendo antes de entrar no Symphony X e, este novo álbum me permitiu que, como nos outros projetos, explorar minha criatividade artística.

Você acha que, por ter uma voz tão poderosa e peculiar, sente-se preso num estilo?
Sim, mas eu faço de tudo para escapar desta prisão (risos)! Eu tentei mostrar um lado mais suave e o Adrenaline Mob me permitiu gravar meus primeiros cover's. Bom, todo mundo sabe que eu sou fã do Dio e eu gravei três músicas de seus diferentes períodos para fazer um tributo à ele, mas por eu ter gravado a música "Barracuda" da banda Heart, me permitiu ir a uma nova direção que eu nunca costumei fazer, mais blues, que eu mostrei um pouco no Symphony X. Eu não costumo expandir meu repertório mas eu faço isso porque isto também é música, e este sou eu. Fiz isso porque amo música, fiz porque há muitas coisas que eu não tenho a oportunidade de mostrar, simplesmente porque no Symphony X o genro é.... "fechado", rígido,... o que é uma pena, porque precisamente este estilo (n. da Samii: se refere ao Prog Metal) você poderia variar musicalmente, mostrar mais facetas (risos). Mas porque nós não somos um grupo de "rock" progressivo, mas um grupo de "Metal" progressivo, devemos permanecer dentro dos limites do Metal, onde tudo que é feito foi claramente definido. Se você abandona este quadro, você perde a atenção de muitas pessoas que estão unicamente ligados por isso. No Symphony X, Michael Romeo (guitarrista) mostra muito bem este lado da música, mas para mim, como cantor, minha expressão está muito limitada.

O que é uma surpresa, já que o "The Great Divide" precisamente o lado "prog" desapareceu em favor do lado mais metal.
Sim, os timbres das guitarras solo são mais metal. Mas isto não significa que eu tenha que cantar como o Bruce Dickinson ou Rob Halford. Mas nos outros, eu canto com mais soul, um lado mais blues como em "Reach For the Stars". Basicamente, eu não canto metal, eu canto rock. Isso que é mais natural para mim. Na maioria das músicas que canto, sou eu, claro, mas também faço uma emulação de meus herois, Dio, Dickinson, Halford... contra a minha vontade e porque eu cresci ouvindo-os. Quando eu escuto um riff ou uma parte de uma música mais "metal", ele sai assim! Mas quando eu escuto uma música mais "aberta", eu começo a ser eu mesmo, portanto, mais rock.

Quem é responsável pelo direcionamento mais metal do álbum, Timo?
Sim, Timo, claro. Ele foi o compositor, produtor... Mas eu tive mais liberdade do que os outros três. Honestamente, Magnus é um grande compositor, produtor e também um grande cantor, então é mais fácil seguir as instruções dadas. Timo me deu bastante espaço e foi aberto a todas as sugestões. O que foi meio difícil no começo, e eu pedi à ele que fosse claro no que ele queria em termos de melodias dos vocais, por exemplo. Eu não percebi que ele esperava mais envolvimento meu no projeto.


Capa "The Great Divide" | Fonte: Hard Force


Escutando o álbum, parece que ouço uma música bastante genérica, simples, como se, no fundo, Timo Tokki tivesse construído com o Jorn, você e ele mesmo o cobrisse com a carne e os músculos, ou melhor dizendo, carne com sua voz e solos, realmente, para dar uma encorpada!
Mas é exatamente isso! Eu tenho que admitir que eu recebi como se fosse o esqueleto, bem básico, bem "cru" e tive a permissão de adicionar livremente esse esqueleto à carne, se quisesse. Mas honestamente, cara, eu estou aqui todo o tempo. Eu cantei em partes de músicas excelentes, com grandes riffs, que me empolgaram, mas o que me interessa são os intervalos. E onde eu encaixo a minha voz. E o esqueleto ganha vida. Para bandas que escrevem canções "reais", é a voz que faz ganhar vida. É nosso trabalho, como cantores, de dar essa cara à música, no qual permite que o ouvinte se identifique com um título em particular. Estamos aqui para contar histórias, cativar o ouvinte e fazer títulos humanos. De qualquer gênero musical.

Na capa, acredito que, desta vez, eles não poderiam colocar três monstros?
Sim (risos)! As artes da capa são legais, nós estamos sempre em contraste em forma de monstros ou coisa assim, é muito power metal! Mas sim, seria legal se colocassem Timo.

Sentimos que vocês três se divertiram.
Sim, o álbum foi bem "orgânico". Muito mais que os três primeiros álbuns, na minha opinião. Concordo com você que, quando eu escutei, descobri que não havia excessos, foi muito simples e todos os títulos tem suas qualidades próprias. Como você disse, nós três estávamos bem, eu gostei.

Você compartilha das mesmas influências de Jorn? Seus estilos são semelhantes, mas também se diferem. Você acha que suas vozes completem ou se completam?
Oh, eu acho que se completam! Não é tão competitivo, embora nós reconheçamos quem canta. É verdade que, às vezes, nossas vozes possam ser similares e podem confundi-los, especialmente nas pontes em que os versos são compartilhados por nós, cada um que possua ouvidos de jornalistas e críticos musicais conseguem reconhecermos imediatamente, alguns que já colocam nossos primeiros nomes na mente quando ouvem nossas vozes (risos)!  Até ouvir novamente e de novo e dizer: "Oh, merda, não! Não é ele!" (risos) Mas funciona bem. Jorn é um cantor fabuloso. Nós compartilhamos a mesma admiração pelo Dio, claro.


Fonte: Hard Force


Como vocês distribuíram as músicas?
Oh, nós fazíamos cada um na sua vez. Neste álbum, eu escolhi as três primeiras músicas nas quais eu cantei sozinho, e o resto eram duetos. Aconteceu calmamente.

Sua escolha é preferencialmente nas músicas mais rápidas?
Não, eu apenas escolhi aquelas que eu escutei eu mesmo cantando. Nas outras, eu escutei a voz de Jorn. Me aproximei das faixas nas quais eu achei que poderia dar minha melhor performance.

Então você teve mais liberdade nesse álbum?
Sim, muito mais. Novamente, na tradução das palavras, tons e melodias, nós fizemos o que achamos que foi apropriado. Nada aqui foi trabalhoso. E durante as gravações, eu gastei um bom tento para ter certeza que eu me desgastei entendendo a mensagem da música, seu tema. É muito tempo consumido.  Eu gastei mais tempo nesse álbum do que nos três anteriores juntos!

Nos álbuns anteriores, Magnus Karlsson escreveu os textos?
Sim, e eu fiz algumas modificações, incluindo em inglês. Mas as músicas foram finalizadas. Eu tinha apenas que ouvir, fazer algumas modificações, capturá-las e salvá-las. Eu tive que gastar uma semana ou dez dias no primeiro, como também no segundo e duas semanas no terceiro. Mas neste último, eu gastei quase um mês inteiro. Mas eu realmente gostei, embora inicialmente eu não planejei isto! Mas eu acho que o resultado esta aí.

Não é frustrante não poder usá-lo num projeto ao vivo?
Um pouco. No próximo ano eu não tenho muitas coisas planejadas. Há tantas coisas que eu gostaria de fazer e dentre elas, esta é uma que eu realmente gostaria de fazer! Infelizmente não é o caso do Jorn que está bem ocupado. Ele lançará dois álbuns ano que vem. Ele tem uma grande carreira solo e estou feliz por ele. Mas talvez eu falasse com ele, propusesse a tocar o projeto Allen/Lande ao vivo? Poderíamos estar começando! Seria legal! Mas agora, nada está planejado. Um de nós poderia se encontrar um ao outro num festival e tocar algumas músicas juntos. Acho que é pedir muito.



Fonte: Hard Force

Nós poderíamos te ver no festival Hellfest ano que vem (N. da Samii: o festival Hellfest é francês, tanto quanto a revista)?
Poderia. Mas provavelmente não com o Jorn. Há uma ou duas outras coisas que eu faço que abre a possibilidade de nos encontrarmos, sendo uma delas o Symphony X, sendo que estamos trabalhando no novo álbum. Adrenaline Mob poderia ir para a Europa em 2015, então, tenha esperanças!

Tenho uma última pergunta e, aviso de antemão que não é fácil! Para aqueles que não te conhecem, qual dos seus álbuns você recomendaria para escutar?
(Silêncio)... É uma boa pergunta... Hmmmm... para alguém que não me conhece.. É difícil! Depende de quem me pergunta, que música que gosta... (risos) Mas eu acho que "Paradise Lost" (Symphony X) seria bom para me apresentar porque há uma grande variedade nesse álbum. Ele é pesado, calmo, com pegada blues... não mostra muitas de minhas facetas. Mas então seria esse que eu escolheria... Não. Na realidade, este álbum é suficiente. Embora, também tem meu álbum solo "Atomic Soul", porque este sou eu. Poderia ser estes dois... Adrenaline Mob... são músicas diferentes, mais gutural, mais americano, mas porque não o álbum de cover's "Covertà" porque nós conhecemos as músicas e ajuda a se familiarizar com minha voz nas faixas conhecidas. Talvez esta seja a melhor maneira de  conhecer uma nova voz, pelos cover's. Assim é como um artista começa, cantando músicas famosas.

Você se sente mais perto do Metal Europeu ou Norte-Americano?
Eu tenho uma história mais longa com a Europa do que com a América, o que é irônico, já que sou Americano, mas sim, eu sou mais chegado no Metal europeu. Na realidade, eu me aproximei mais do Metal americano por causa do Adrenaline Mob! Nos Estados Unidos, o Metal europeu é considerado antiquado, porque ele está sempre preocupado com suas raízes, enquanto que nos Estados Unidos isso foi cortado há muito tempo. Aqui, a gente faz, subgêneros, subgêneros, subgêneros... bandas vem e vão, desaparecem para sempre, é o reinado da banda do mês! E a música desaparece com eles. Em 2012, quando eu estava tocando com o Adrenaline Mob, eu toquei no Graspop. Eu vi num dos telões gigantes um pai com sua filha nos ombros e eu disse "mas eles são os verdadeiros metalheads" "!!!" (risos), com duas gerações enquanto nos Estados Unidos não é necessariamente muito legal ir nos shows com seus pais! Especialmente no Metal! Bem, na Europa é legal e acaba formando um largo  grupo de fã de várias idades e acho que isso é a chave pro sucesso, pois faz com que os gêneros consiga se mantendo vivos. Acho que as capitais do Metal são na Europa, definitivamente. E isso não vai mudar. Aqui, o Metal vem e vai... Olhem meus amigos do Avenged Sevenfold, eles fazem um bocado de sucesso aqui nos Estados Unidos e em vários outros continentes, mas se você ouvir o último álbum, é um álbum de Classic Metal. Suas influências são óbvias. Aqui é Metallica e Guns. Eu cresci com essas bandas! Avenged ainda tem sucesso pois mantêm vivo o Classic Metal, e apresenta isso para a nova geração. Eu acho isso bom. Portanto, ainda há esperanças para o Metal aqui nos Estados Unidos (risos)! Eu sou muito feliz por eles.

Russell, muito obrigado!

O álbum "The Great Divide" do Allen/Lande foi lançado no dia 20 de Outubro via Frontiers Records.


Contra-capa do "The Great Divide" | Fonte: Hard Force







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